Especialista do universo do vinho desfilaram no Centro de Congressos do Estoril, no âmbito do Must Fermenting Ideas.
O evento, apoiado pela Câmara de Cascais, está a ser um sucesso, quer pela qualidade dos oradores convidados e suas intervenções, quer pela participação daqueles que assistem à iniciativa, muitos deles jornalistas e estrangeiros.
O destaque de hoje vai para a intervenção de Rui Falcão, crítico de vinhos, que tratou com enlêvo justificado o vinho de Colares, néctar desconhecido não só para muitos dos que vieram de fora do país, mas também para muitos portugueses.
O também organizador da reunião falou da singularidade do clima, do solo e das vinhas da região, bem como das exigências das videiras que rastejam pela areia, protegidas do vento e da bruma marítima por fileiras de canas, e da produção restrita mas da qual ainda se conservam exemplares dos anos sessenta, a preços muito tentadores, se comparados com exemplares, da mesma igualha, mas de outras origens. Comparativamente com vinhos franceses, italianos ou espanhóis, os nossos têm preços que não se coadunam nem com a sua qualidade, nem com a sua raridade.
Hoje também se falou da contracção dos mercados no que toca à venda e consumo de vinho, em todos os níveis de qualidade e preços nos cinco principais mercados, nos últimos quatro anos. No entanto, Daniel Mettyer considera que as vendas para Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, China e França vão crescer nos próximos anos, pelo menos até 2023. Da intervenção deste especialista ficámos a saber que os vinhos portugueses têm pouca expressão no Reino Unido, Alemanha, ao contrário do que sucede com mercados como a França, os Estados Unidos e a China. Neste destino, entre 2014 e 2018, verificou-se um crescimento superior a 17 por cento. E não foi maior devido à retracção de cinco por cento no último ano. Para o país do Tio Sam as exportações de vinhos portugueses não param de aumentar. O crescimento de 2014 para 2018 foi de quase sete por cento, tendo-se situado acima dos cinco por cento no ano transacto. As vendas para França também aumentaram no agregado dos quatro anos e em 2018, mais de seis por cento e cinco, respectivamente.
No entanto, no próximo quadriénio, vamos vender menos vinho aos franceses, nas previsões do analista da IWS, enquanto para os Estados Unidos e China estima aumentos da ordem dos cinco por cento.
Outro dos oradores, Lenz Moser, veio falar da criação do Chateau Moser, precisamente em território chinês. O projecto replica o conceito francês de castelo e vinha na terra dos pagodes.
Para a plateia estrangeira, um dos temas do dia foi o vinho denominado laranja, pouco conhecido entre nós, mas muito apreciado por gerações e povos com menor contacto com o vinho tradicional, nomeadamente os japoneses. O Guru do produto passou pela Cimeira do Vinho. Simon Woolf defendeu o tema como o mundo o aprendeu a amar. Uma apresentação de um produto que não é nem branco, nem tinto, nem rosé, produzido em países como a Itália e a Eslovénia, uma novidade com laivos de criação marketizada.
De ontem ficam as intervenções de Gaia Gaja, a representante de uma família de Piemonte que se dedica à produção do vinho desde meados do século 19. A produtora defendeu a biodiversidade, tendo-se referido à importância dos insectos, nomeadamente as abelhas, e as plantas no equilíbrio da vinha e do ecossistema onde está implantada.
Mas houve muito mais nesta Cimeira Mundial do Vinho. As ideias fermentam, de facto, no Estoril, e a produção de matéria prima é de elevado interesse e nível. Pena é que não estejam, no Centro de Congressos daquela vila do Concelho de Cascais, mais produtores de vinho.